Historiadora fala sobre a preservação da história de Dourados
- Notícias de Dourados
- 30 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Confira uma análise detalhada do patrimônio cultural e histórico de Dourados e o impacto das leis de tombamento

No dia 12 de setembro de 2024, tivemos a oportunidade de conversar com a historiadora Márcia Bortoli Uliana, doutora em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Com uma carreira dedicada à pesquisa e ao ensino, Márcia compartilhou insights sobre sua pesquisa de doutorado e seus projetos atuais voltados à preservação do patrimônio cultural de Dourados.
Márcia Bortoli Uliana possui graduação em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2004) e mestrado em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (2008). Atualmente, é coordenadora de um projeto de iniciação científica custeado pelo PICTEC/FUNDECT e tem vasta experiência em pesquisa e ensino de História, com ênfase em temas como Patrimônio Cultural, Ensino de História, Cidade, Identidade e Memória.
Durante sua pesquisa de doutorado, Márcia dedicou-se à compreensão do patrimônio cultural em Dourados, avaliou jornais impressos de 1984 a 2018 arquivados no Centro de Documentação Regional (CDR) da UFGD. A análise incluiu matérias de jornais, a legislação municipal, além dos inquéritos civis e ações civis públicas movidas pelo Ministério Público Estadual. Sua tese, defende que, ao longo de quatro décadas, a instituição do patrimônio cultural multifacetado através do poder público municipal produziu tensões, desafios e posições discordantes. “As leis não foram capazes de produzir uma política consistente, mesmo com a reativação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Dourados, em 2013”, explica Márcia.

PROJETO
Márcia também coordena o projeto de iniciação científica na educação básica intitulado Patrimônio Cultural em Dourados Através de um Website (2): Cidade, Cultura e História. “Nosso projeto é resultado do custeio de bolsas da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul – FUNDECT – através do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica do Estado de Mato Grosso do Sul – PICTEC, entre 2022-2024”, ressalta a professora.
Este ano, o projeto conta com três bolsistas do ensino médio, da Escola Estadual Floriano Viegas Machado e busca, através da história pública e, em meio às cidades inteligentes, construir um website que trate do patrimônio cultural local. “O website já existe é o https://douradosempatrimonio.com.br/ mas ainda em construção. Ali estão dispostos alguns dos patrimônios culturais e ambientais instituídos no município de Dourados. Há o levantamento de fontes históricas, da bibliografia, da leitura e sistematização, bem como das questões acerca das escolhas, das disputas de memória e da representação de cada patrimônio”, informa Márcia.
Junto a escola e a comunidade douradense o projeto promoveu “pedaladas” tanto para mapear os patrimônios e observar o estado de conversação, bem como para pensar em conjunto a arte e a mobilidade urbana. Outra atividade fundamental, segundo a professora, foram os diálogos patrimoniais em que são promovidos debates na escola e fora dela sobre as produções acadêmicas ou não que tratam dos patrimônios já instituídos.
Importante considerar que o website traz uma série de leis de tombamento, como a Lei nº 1.293/1984 que tomba figueiras na Rua Aniz Rasslen e Albino Torraca. Lei nº 2.009/1996 que tomba a Estação Ferroviária em Itahum. Lei nº 4.100/2017 que declara o Tereré como Patrimônio Cultural Imaterial de Dourados, entre outros. No entanto, “há ainda bastante trabalho a ser feito”, fala a professora. Acesse o QR Code.
PRESERVAÇÃO
Márcia destaca a importância dos conselhos municipais, em especial, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Dourados que discute questões específicas sobre o patrimônio local, assim como o Conselho Municipal de Política Cultural, em que o patrimônio cultural local é um ponto importante nas discussões da cultura douradense.
“Há ainda certo ‘desconhecimento’ por parte da população douradense e o público em geral da institucionalização do patrimônio em Dourados. Bem como, há a necessidade de analisarmos nossa memória, história e identidade junto da construção e das dinâmicas da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul. Sendo assim, esses conselhos são fundamentais, pois reúnem tanto instituições e representantes da sociedade civil, porém, há muitos sujeitos e coletivos que não se identificam ou não se veem representados, em especial, por sermos uma sociedade tão diversificada e plural e infelizmente ainda não vemos isso no patrimônio instituído em nosso município”, diz Márcia.
Márcia Bortoli Uliana conclui a entrevista ressaltando a necessidade de não apenas tombar monumentos, mas também de garantir sua preservação e relevância contínua. “Não basta tombar o monumento ou a arte para depois deixá-la abandonada. É essencial refletir sobre a representatividade e a importância desses elementos na nossa sociedade”, finaliza.
Por: Charles Aparecido DRT 2080/MS
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